Segundo passo

Putz, quase esqueci da reunião sobre obesidade.

Foi no mesmo dia da Psiquiatra, as 19:30 no Hospital Ana Costa em Santos, ministrada pelo Dr. Joaquim.

Cheguei lá, subi até o décimo andar, naqueles elevadores que cabem até um elefante. Quando me internei pra operar o apêncice, não reparei quão grande eram os elevadores. Talvez, por ter ficado deitada, na própria maca inserida no elevador.
Não que eu tenha, necessariamente, me sentido bem com isso, mas graças ao elevador do hospital, eu subi com a minha familia e mais uma moça [não tão pequena quanto eu], que também ia pra reunião.
Entrei na sala, um auditório pra ser mais precisa. Olhei em volta e voltei o olhar pra minha mãe, que logo entendeu o que eu quis dizer.
Sim, mesmo tendo o peso que tenho, eu era a menorzinha alí.
Talvez eu tenha me assustado um pouco com a realidade, nua e crua e logo que o susto passou, procurei um lugar na frente, pra que pudesse ver e ouvir bem.

O Dr. Joaquim entrou e nos contemplou com um sorriso. Começou então a explicar os prós e os contras da cirurgia, os tipos de cirurgia e também seus prós e contras. Mostrou também, um vídeo que exibia como era feito a cirurgia, o que causou certo desconforto na maioria das pessoas.
Pelo que ele pode explicar, o Bypass é o modo mais seguro, na qual retira-se 90% do estômago.

Após o término da reunião, o Dr. Joaquim deixou em aberto um momento para discutirmos e perguntarmos qualquer coisa sobre o procedimento.
Eu observava uma moça, loira e aparentemente magra [ou pelo menos parecia ter sido magra por toda sua vida]. Ela levantou e declarou que emagreceu 24 kg antes da cirurgia, que tinha operado há 9 meses e que emagreceu mais 80kg restando 60, o que totalizou 164kg.

Minha cara foi no chão, não tinha reação.
Daquele momento em diante, nunca quis tanto que a minha cirurgia acontecesse o mais rápido possível pra que eu possa ter, enfim, uma nova vida.

Primeiro passo - Psiquiatra

Saber que minha cirurgia depende do aval dos médicos me deixa um pouco insegura. Claro que, não restam dúvidas de que eu precise da cirurgia, mas vai saber né?!

Cheguei no Ana Costa por volta de 12:45, já que a consulta estava marcada com a Drª Berenice as 13h.
Passei pela recepção e subi, esperando a minha vez. Já estava ansiosa pra saber o que aconteceria depois que eu entrasse na sala. Afinal, até que provem o contrário, psiquiatra cuida de doido rs.
Senha 214, sala 08. Era a minha. Tremi.

Entrei na sala, olhei pra médica e ela já me mandou sentar antes que eu fechasse a porta.
Começou a conversar comigo e fez:
- E aí Bruna, como você está?
- Bem doutora e a senhora? - óbvio que eu fui inocente!
- Não, na parte psíquica eu me refiro.
- Bem, bem também.
- Já tomou algum remédio controlado na sua vida?
- Apenas o Tegretol, por 4 anos por conta de uma pequena convulsão em 2003.
- E quanto a remédios receitados por psiquiatras?
- Doutora, a senhora é a primeira psiquiatra que eu me consulto em toda a minha vida!
- Ora, como assim, a primeira? Nunca foi? - Nesse exato momento, me senti como se fosse uma lunática, doida, fora do normal, maluuuuuca por nunca ter ido ao psiquiatra
- Não! - respondi já apreensiva

Ela pegou o receituário e começou a escrever. Juntando a belíssima letra dos médicos, meu campo de visão não muito privilegiado e o fato de estar de ponta cabeça, não pude ler o que ela escrevia.

Ela tirou a folha do bloquinho e me entregou.
- Pronto Bruna, da minha parte é só isso
- Mais já? - Eu mal tinha esquentado a cadeira.

Agradeci e saí do consultório. No meio do caminho, vim lendo.

"A paciente Bruna Cicerelli, por mim examinada está apta psiquicamente pra se submeter à cirurgia bariátrica."

Olhei pra mim mesma dentro do elevador e pensei:
- Em que momento será que ela me examinou? Por que, se aconteceu, eu nem vi [risos]

O Primeiro passo, o primeiro aval está dado. Restam 2, não menos importantes
Espero eu que o tempo voe, voe e voe...e com ele, traga a minha paz.

Início de tratamento

Antes de subir na balança, ele avisou que a partir daquele momento, começara meu tratamento, o pré operatório.

Subi na balança digital. O piso era largo e lembrei que nesses consultórios, todos os aparelhos eram próprios pra quem está bem acima do peso. Não me assustaria se ele dissesse que aquela era uma balança também usada por caminhões, já que as normais não aguentam muito.

O Dr. Joaquim olhou assustado pra mim e eu olhava incrédula. O visor acusava 140 kilos e 600 gramas [Odeio balança, sabia? Ele te aponta a verdade nua e crua].

- Onde está toda essa massa? - Ele comentou
- Boa pergunta! Eu achava que não passaria dos 110 kg
- Realmente, não aparenta ter tudo isso. A massa está bem distribuida e você quase não tem barriga. - Não que eu tenha me sentido bem com o comentário dele. Afinal, quem se sente bem depois duma bomba dessa?

Saí do consultório com cara de quem acabou de ver um fantasma, mais branca do que de costume. Minha mãe logo sacou e nem precisou perguntar nada.

Cheguei em casa, marquei a psiquiatra pro dia 28/12/10. Endocrino pro doa 03/02 e a nutricionista, só tem disponibilidade pra TENTAR marcar, depois do dia 13/01.

E até lá, me resta esperar.

Procedimentos

Depois da surpresa, peguei o encaminhamento com a Drª Mirella e mais do que rápido, cheguei em casa já ligando pro Ana Costa pra agendar uma consulta.
Pra minha surpresa, mas não tão agradável, o Dr. Joaquim só teria um espaço em sua agenda dia 22/02/11.
Eu, não podendo recusar, agendei e também deixei meu nome na lista de desistência, óbvio.

Desde sempre fui muito ansiosa e, com isso, sofria por conta do "tempo que não passava". Continuando a viver normalmente, com faculdade, Johrei e afins...esqueci da consulta, abstraí da mente.
Dia 20/12, acordei com o meu celular tocando. No visor, um número desconhecido.
- Alô, senhora Bruna?
Pensei comigo: poxa, além de me acordar, me chama de senhora no auge dos meus 19 anos? rs
- Oi, é ela. Pois não? respondi
- Sou fulana, do Hospital Ana Costa. - Na hora, pulei da cama e melhorei o humor!
- Oi, oi...no que posso ajudar?
- A senhora deixou seu nome na lista de desistência do Dr. Joaquim e eu tenho um horário pra amanhã, 21/12 as 11h da manhã. A senhora se interessa?
- Claro, sem duvida! - Respondi já querendo soltar fogos e nem ligando pro tratamento de "senhora".

O dia se arrastou, a noite mais ainda. Eu não via a hora de chegar lá e conversar com o médico. Saímos de casa 10:30, eu, minha mãe e meu irmão [não menos ansiosos que eu].
Mal entrei na sala de espera e o Dr. Joaquim chamou, minha mãe e meu irmão ficaram.

- Oi Bruna, como está? - Ele puxou, antes mesmo que eu sentasse
- Bem doutor, ainda mais agora que as coisas parecem ajudar
- É, sei do seu histórico. Conversei com a Drª Mirella ontem sobre o seu caso. Bom, vamos lá - Eu tremi.

Ele puxou um bloquinho de receituário. Começou a escrever e a falar junto:
- Bruna Ci...cerelli, é isso? Quase uma Cicarelli e tão bonita quanto.
Sem graça, eu corei.
- Não fique sem graça. E depois da cirurgia, os elogios triplicarão. Mas então, vou encaminhar-te pro endocrino, pra nutricionista e pro psiquiatra. São especialidades básicas, na qual eu preciso dos relatórios. E, ah...toda ultima terça feira do mês, tem uma reunião com pessoas que também vão operar, quero que vá!
- Sim senhor! - respondi sem nem pensar.
- Agora, sobe na balança.
Tremi de novo e me assustei com o que vi.

O começo

Acho que desde que me conheço por gente, sou da forma que sou: gordinha. Desde pequena aprendi a ver o mundo de outra forma. Graciosamente pela sua essência, já que pela aparência, nem eu me permitia, por vergonha.

Drama a parte, tudo começou por causa duma apendicite. Sim, apendicite.

Dia 28/10 desse ano, me vi sendo internada as pressas por conta deste belo nervo que, literalmente, só serve pra causar dor.
Foi um corre corre, dia 29 12:40, estava eu sendo operada pela Drª Mirella.
2h de cirurgia depois, um efeito muito louco da anestesia e 6 pontos na barriga, acordei no quarto.
O pós-cirurgico foi o mais complicado, por não poder levantar e principalmente pela dieta maluca, que me permitia vento, salada e vento com sal.
Em 07/12 ...tirados os pontos, um mês e meio de dieta, voltei na Drª Mirella e pra minha surpresa, [e a dela, inclusive] não tinha emagrecido UMA grama!

Aí sim, a Drª Mirella acreditou que eu não era dessa forma por puro relaxo [tá, só um pouco].

Eis que ela virou pra mim e fez:
- E aí, o que você acha duma cirurgia Bariátrica?
Olhei pra cara dela e tive que rir. Depois comentei:
- Doutora, eu, sinceramente não tenho quinze mil reais assim, sobrando.
Ela me devolveu o sorriso e completou:
- Não, pelo convênio! Já não é mais questão de estética e sim de saúde. Topa?
respondi sem titubear:
- Só se for agora!